Quem você acorda quando se encontra no deserto? (reflexão)

Elisabeth Amorim na Duna do Pôr do Sol / Jericoacoara/ CE

Lendo e relendo o livro “ O pequeno príncipe” do francês Antoine Saint de Exupéry passo a caminhar lado a lado com o personagem- narrador, talvez, para conhecer melhor aquele  piloto que teve um trauma na infância ao querer ser desenhista, mas não ser compreendido pelo mundo dos adultos e segue essa outra profissão.  Ao e se encontrar no deserto do Saara sem amigos e pouca água e o único meio de condução apresentava uma pane no motor que o obrigara a uma aterrissagem forçada passa por uma experiência  fantástica e inacreditável.

Quem você acorda quando se encontra numa situação semelhante? Você se lamenta por conta da solidão e acorda o gigante da revolta que habita em você para reclamar do calor, da falta de sorte, do deserto, da pane e até mesmo da pouca quantidade de água, das frustrações  da infância? Olhe que o gigante da revolta é insaciável e ingrato, sempre tem algo a reclamar, mesmo quando você estava na luta e ele dormindo, afinal, tinha você para sustentá-lo.

Volto novamente para o livro inspirador desse texto, e fico a refletir sobre um piloto que sonhou ser desenhista na infância e não encontrou um olhar sensível para os seus desenhos. E é justamente  no isolamento do deserto, já adulto,  surge uma criança que entendeu a sua linguagem, uma criança que interpretou muito bem o seu desenho. Um pequeno príncipe durante uma semana naquele deserto desabitado lhe fez companhia…E não é coincidência, mas pistas deixadas para o leitor inteligente, no dia da partida do piloto a criança aceita ser picada pela serpente mais venenosa do local e desaparece.  O que estamos fazendo com as nossas crianças?

Quando encontramos num deserto podemos acordar o gigante da revolta ou um pequeno príncipe que vai simbolizar a pureza, a inocência e a persistência de uma criança, uma criança que não desiste diante do “não” dos adultos, uma criança que insiste na busca das respostas desejadas, a criança que deveria habitar em todos nós.  E a criança não ensinou apenas um piloto frustrado, mas milhões e milhões de “pilotos” que tem seus sonhos  esmagados, seus desenhos rasgados e seu mundo habitado por velhas raposas, serpentes e homens vaidosos, bêbados, empresários e reis mandões que só pensam em si e no acúmulo de riquezas.

Vamos acordar a criança! Vamos persistir nas nossas perguntas mesmo que os adultos ou gigantes não nos dão respostas satisfatórias. Vamos proteger a nossa flor como se ela fosse a única do planeta, porque ela é nossa, e para cada um de nós, realmente, ela é única e foi cativada.

Não importa se no mundo do outro há flores mais bonitas e em maior quantidade, não importa se o “homem de negócios” que habita no mundo da lua se apropriou das estrelas. “Para que ele quer tantas estrelas se não consegue brincar com nenhuma delas?” A criança que habita em mim, nunca morrerá e nem  parará de questionar o estranho, mesmo sendo picada por alguma serpente, ela é superior a toda maldade humana ou desumana.  Minha criança é tão de bem com a vida que às vezes não sei quem é ela nem quem sou eu.

Elisabeth Amorim

Fevereiro, Iaçu, BA /2019

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