Canudos: da negação para a exaltação ( Elisabeth Amorim)

Imagem da parede externa da Igreja Católica – ( Representação de Antônio Conselheiro e os seguidores) foto: Elisabeth Amorim/2022

O bom da vida são as transformações, as mudanças de opinião, porque quem não muda as formas de pensar, continua achando que “é impossível o homem ter ido à lua”, “a pandemia foi uma jogada política”, a “aids é para vender camisinhas”, e que a cidade de “Canudos, no sertão da Bahia, através do Antônio Conselheiro queria derrubar a República”. Coisas do achismo.

Não vamos aprofundar na história, mas dizer aos queridos leitores, Canudos é retrato da transformação e superação. Muitas marcas e cicatrizes de uma guerra insana, ocorrida entre os anos de 1896 e 1897, resultando mortes de jovens, velhos, adultos e crianças que se recusaram desocupar o espaço físico. E aí, a pergunta que não se cala: onde iriam ficar os 25 mil habitantes que ali moravam? As pessoas que foram morar em Canudos tinham aquele lugar como único “Paraíso” conhecido na terra.

Se tem uma coisa que me fascina são as narrativas que vêm das margens sociais, neste caso, refiro-me aos textos “banidos” dos livros didáticos, as poesias de protagonistas que direta ou indiretamente trazem marcas das violências, os cordéis que retratam essas narrativas de Canudos.  Fruto de uma história que a cada vez mais se modifica. Sabe por quê? Os coronéis ao perderem seus empregados para seguirem Antônio Conselheiro queriam a destruição de Canudos, a igreja ao perder fiéis, queria a destruição de Canudos e o governo, em crise, viu Canudos como um obstáculo no caminho da República, também queria a destruição.  Com a aliança dessas três forças poderosas de articulação, manipulação de imprensa, o resultado foi o previsível: GUERRA DE CANUDOS!

Elisabeth Amorim em Canudos, BA/ 2022

De certo modo, Canudos ou a Belo Monte, não passava de uma cidade pobre, porém, com um crescimento populacional assustador, o líder Conselheiro ao posicionar-se contra as propostas republicanas, tornou-se vítima das notícias manipuladoras de imprensa tendenciosa e inimigo número um do país, com isso, os “monstros” fabricados precisariam ser destruídos. A comemoração da tragédia ocorrida em Canudos durou pouco, apenas cinco anos. Bastou o jornalista Euclides da Cunha, correspondente de um jornal de São Paulo (que veio à Bahia cobrir o desfecho da guerra), divulgar seu livro “Os sertões” (1902), fruto dos diários de bordo e das notícias escritas por ele durante todo o conflito. Euclides foi mais um que mudou de opinião em relação a Canudos e seguidores de Antônio Conselheiro, após conhecer os fatos de perto.

Representação de Canudos Velha antes do massacre de 1897 – Imagem da Igreja de Canudos, área externa. Foto: Elisabeth Amorim

Três vezes Canudos! Canudos destruída em 1897 pelas forças do governo, reerguida das cinzas aproximadamente em 1910, só que em 1968 deixou outra vez os novos habitantes desabrigados, com a barragem do Açude de Cocorobó, represando o Rio Vaza-Barris, a cidade ficou submersa. Como Euclides da Cunha acertou: Canudos não se rendeu! Outra Canudos surgiu próximo ao local do conflito ocorrido no século XIX, porém, quando as águas baixam, os escombros de uma guerra ficam à vista, na Canudos Velha.   A nova Canudos tem orgulho de sua história, e ela vem sendo contada a partir das paredes da igreja, da luta do Padre Enoque, nas pesquisas realizadas pelo Campus Avançado de Canudos (UNEB/ Canudos/ Alagoinhas), seja através dos doutores Osmar Moreira dos Santos, Luiz Paulo Neiva, Manoel Neto entre outros pesquisadores, cordelistas e poetas da região. E se você se interessa pela Canudos pelo viés literário, a partir da desmontagem do livro Os sertões, temos a Elisabeth Amorim.

Elisabeth Amorim é pesquisadora, administradora do blog e canal “Toque Poético”, usa as redes sociais para divulgar a cultura e literatura em rede. Há um ano desenvolve em parceria com Lucas Amorim o LITERATURA DE MAINHA , no canal you tube, mais uma ação para propagar a literatura sem compromisso com o academicismo.

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2 respostas para Canudos: da negação para a exaltação ( Elisabeth Amorim)

  1. Alzira Maria de Amorim Neta Souza disse:

    Que texto enriquecedor para aprendermos mais sobre a história de Canudos! Mais uma vez você nos surpreende com essa belíssima história! Parabéns Elisabeth Amorim!

  2. toquepoetico disse:

    Obrigada, Alzira! Você sempre contribuindo com nosso espaço literário.

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